Ácaro-Rajado: Uma Nova Ameaça ao Cultivo do Café no Brasil

A infestação do ácaro-rajado, conhecido cientificamente como Tetranychus urticae, não é uma novidade para os produtores de mamão. Contudo, essa praga agora se apresenta como uma preocupação crescente para o cultivo do café, especialmente na variedade conilon (Coffea canephora), que tem sido severamente impactada em regiões específicas do Brasil, como o Espírito Santo. Um estudo recente publicado na revista Acarologia confirma o perigo que essa praga representa para os cafezais localizados no município de Boa Esperança.

A prática de consorciar o cultivo do mamão com o café é comum nessas regiões, uma estratégia que visa promover o sombreamento dos pés de café durante os seus primeiros anos de desenvolvimento. Essa técnica é amplamente utilizada pelos agricultores capixabas, já que o Espírito Santo é responsável por aproximadamente 70% da produção nacional da variedade conilon.

Importância do Café Conilon para a Economia Local

O café conilon é essencial para cerca de 80% das propriedades rurais do Espírito Santo, que se concentram em terrenos quentes, sendo esta a principal fonte de renda dos agricultores locais. Em média, as lavouras capixabas ocupam uma área de 8,0 hectares, e a produção é conduzida por famílias que cultivam essa cultura com dedicação e esforço. Portanto, a ameaça do ácaro-rajado é extremamente relevante, pois afeta diretamente a subsistência dessas famílias e a economia do estado.

A Evolução da Infestação do Ácaro

Recentemente, pesquisadores observaram a presença do ácaro em folhas jovens do café, o que causou deformações, necrose e até queda prematura das folhas. Esse padrão de dano é inusitado, uma vez que essa praga, em outras culturas, costuma atacar primeiro as folhas mais velhas antes de se expandir para as mais novas.

Um dos fatores que agrava essa situação é o uso excessivo e indiscriminado de acaricidas, que, paradoxalmente, pode ter favorecido o surgimento de cepas mais resistentes do ácaro-rajado. Além disso, os pesticidas podem estar eliminando os inimigos naturais do ácaro, levando à sua migração para as lavouras de café.

As mudanças climáticas também têm um papel significativo nesse cenário. O ácaro-rajado se adapta melhor a ambientes com baixa umidade e temperaturas elevadas, tornando a região do Espírito Santo cada vez mais propensa à sua infestação devido a essas alterações climáticas.

Como Controlar a Infestação?

O plantio consorciado exige atenção e cuidados contínuos, especialmente no que diz respeito ao monitoramento de pragas. Essa vigilância constante é vital para mitigar os danos nas lavouras. No que tange ao ácaro-rajado, não existe uma solução universalmente aplicável. O Ministério da Agricultura e Pecuária reconhece o uso de acaricidas apenas na cultura do mamão, mas não na do café, onde a aplicação deve seguir recomendações específicas e dosagens adequadas.

Os especialistas sugerem que, para contornar essa situação, os produtores considerem o uso de ácaros predadores como uma alternativa de controle biológico. Duas espécies recomendadas são Neoseiulus californicus e Phytoseiulus macropilis, ambas já disponíveis comercialmente no Brasil e registradas para uso no controle do ácaro-rajado em diferentes culturas agrícolas.

Ademais, é essencial que os produtores mantenham um diálogo aberto com agrônomos e especialistas, sempre buscando informações atualizadas e práticas sustentáveis que não comprometam a saúde do solo e da biodiversidade local.

Desafios e Oportunidades Futuras

Imagem e reputação do café brasileiro estão em jogo, principalmente em um mercado que valoriza a qualidade e a sustentabilidade. A luta contra o ácaro-rajado não diz respeito apenas à utilização de pesticidas, mas requer uma abordagem integrada que considere a promoção da biodiversidade e a saúde dos ecossistemas agrícolas.

Os desafios impostos por pragas como o ácaro-rajado servem como um lembrete da importância de adotar práticas agrícolas mais responsáveis e conscientes. A conscientização sobre as complexas relações entre plantas, pragas e seus inimigos naturais deve estar na vanguarda dos esforços para proteger e preservar as lavouras de café do Brasil.

Por conta dos riscos que o ácaro-rajado representa, o monitoramento constante, a busca por alternativas sustentáveis e a educação dos agricultores são as chaves para garantir a saúde das lavouras e, consequentemente, a continuidade da cafeicultura no Espírito Santo e em outras regiões do Brasil. Continuar a pesquisa e o desenvolvimento de soluções inovadoras para lidar com esse e outros desafios se torna vital para a proteção do café, um dos ícones da cultura e economia brasileiras.

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