Vênus é um planeta fascinante e intrigante do nosso sistema solar, especialmente quando se trata de suas características vulcânicas. Entre suas muitas singularidades, destacam-se as cúpulas vulcânicas que têm sido carinhosamente apelidadas de “cúpulas em forma de panqueca”. Essas formações são amplas e achatadas, assemelhando-se a vergões circulares que se elevam da superfície. Um estudo recente publicado no Journal of Geophysical Research: Planets lança luz sobre a origem dessas estruturas, sugerindo que elas não são resultado apenas da lava, mas também da flexibilidade da crosta do planeta, que cede sob o peso das erupções.
Atualmente, são mais de 1.600 formações vulcânicas identificadas em Vênus. Essas impressionantes cúpulas de panqueca possuem diâmetros que podem atingir dezenas de quilômetros, mas a sua altura é relativamente pequena. Elas se lembram de uma versão achatada de Mauna Loa, o maior vulcão ativo da Terra. Essa comparação revela a magnitude e a complexidade das estruturas presentes neste planeta vizinho.
Ainda persiste a dúvida sobre como exatamente essas cúpulas se formam. Uma teoria postula que elas são criadas a partir de lava extremamente viscosa, que flui de maneira lenta e pega consistência, resultando em uma forma achatada ao se solidificar. No entanto, os pesquisadores do estudo mais recente propõem que a dinâmica da crosta superior de Vênus também desempenha um importante papel na modelagem dessas cúpulas. A crosta pode se curvar sob o peso da lava, assim como a casca de uma laranja que se afunda quando pressionada. Essa curvatura pode deixar indícios visíveis ao redor da estrutura, como uma elevação característica.
De acordo com Madison Borrelli, uma das pesquisadoras envolvidas no estudo, evidências encontradas em análises anteriores demonstraram que cerca de 20% das cúpulas de panqueca estudadas apresentavam indicações desse fenômeno. Assim, a ideia de que a crosta de Vênus influencia a formação dos vulcões se torna cada vez mais validada.
O estudo focalizou uma cúpula específica chamada Narina Tholus, que apresenta 55 km de largura e está situada em uma região circular denominada Coroa Aramaiti. A escolha dessa estrutura se deu devido à disponibilidade de dados topográficos detalhados obtidos pela sonda Magellan, da NASA, durante a década de 1990. Os cientistas criaram um modelo virtual da cúpula e realizaram simulações com diferentes tipos de lava fluindo sobre dois tipos de terrenos: uma crosta flexível e uma litosfera rígida. O objetivo era entender como essas diferenças impactam a forma final das cúpulas.
As simulações mostraram resultados evidentes. As cúpulas formadas em crostas flexíveis assemelharam-se muito mais às cúpulas reais, apresentando topos achatados e laterais íngremes, características marcantes dessas formações. A crosta flexível atuou como uma barreira, limitando o espalhamento da lava e favorecendo o acúmulo da mesma.
Outro fator determinante para a forma das cúpulas é a densidade da lava. Somente os fluxos de lava bastante densos, que chegam a ter mais do que o dobro da densidade da água, foram capazes de resultar em cúpulas com as características adequadas. Essa lava é extremamente espessa, sendo descrita como mais de um trilhão de vezes mais viscosa do que ketchup, e leva um tempo considerável para se solidificar, levando centenas de milhares de anos.
Embora os avanços sejam promissores, o estudo tem suas limitações, pois abrangeu apenas uma única cúpula. Para que as conclusões sejam validadas, mais dados e análises são necessários. A equipe de pesquisa espera que futuras missões, como a sonda VERITAS da NASA, tragam imagens mais detalhadas da superfície de Vênus. Com essas novas informações, será possível identificar com mais precisão o tipo de lava que forma as cúpulas de panqueca e até mesmo considerar a possibilidade de a crosta venusiana acomodar lavas raras como as riolíticas e andesíticas.
Essas descobertas não são apenas intrigantes do ponto de vista científico, mas também podem fornecer insights sobre a história geológica do nosso vizinho planetário e, quem sabe, pistas sobre a presença de água em sua superfície no passado.



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