Desafios da Água da Chuva: A Contaminação por Agrotóxicos
Nos últimos anos, a água da chuva emergiu como uma alternativa tentadora em meio à crise hídrica que o mundo enfrenta, impulsionada pelas mudanças climáticas e pelo crescimento populacional. Essa solução, no entanto, vem acompanhada de grandes desafios no que diz respeito à sua potabilidade.
Uma pesquisa conduzida pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) trouxe à tona preocupações significativas, revelando que a água da chuva pode estar contaminada por agrotóxicos introduzidos na atmosfera. O estudo, publicado na revista científica Chemosphere, analisou amostras de água da chuva coletadas entre 2019 e 2021 em cidades como Campinas, Brotas e São Paulo.
Os resultados mostraram a presença de 14 diferentes agrotóxicos nas amostras, destacando o herbicida atrazina, que foi encontrado em 100% das coletas. Além disso, o fungicida carbendazim, banido no Brasil desde 2022, foi detectado em 88% das amostras analisadas. A pesquisadora Cassiana Montagner, coordenadora do Laboratório de Química Ambiental da Unicamp, enfatizou que esta foi a primeira detecção de agrotóxicos na água da chuva no país, evidenciando que essas substâncias estão suspensas no ar.
O Caminho dos Agrotóxicos até a Chuva
- Os agrotóxicos entram na atmosfera por meio da aplicação agrícola, sendo levantados pelo vento e, posteriormente, se condensando nas gotas de chuva.
- A trajetória desses compostos é semelhante ao que ocorre na formação da chuva ácida, possibilitando que os agrotóxicos viagem longas distâncias, alcançando áreas que estão muito distantes das plantações originárias.
- Embora as concentrações detectadas estejam abaixo dos limites estipulados para água potável, vale ressaltar que alguns agrotóxicos ainda não possuem parâmetros seguros definidos, levantando bandeiras vermelhas sobre sua presença.
- Especialistas alertam que a exposição crônica, mesmo em doses reduzidas, pode estar associada a problemas graves de saúde, incluindo infertilidade, desenvolvimento de câncer e doenças neurológicas.
Cidades em Alerta: Onde a Contaminação é Mais Preocupante
Entre as cidades analisadas, Campinas foi a que apresentou a maior concentração de agrotóxicos, com 701 microgramas por metro quadrado, seguida por Brotas com 680 e São Paulo com 223 microgramas por metro quadrado. Essa disparidade está diretamente ligada à proporção de áreas agrícolas em cada um dos municípios.
Os pesquisadores alertam que, embora utilizar a água da chuva para atividades como a lavagem de áreas externas seja considerado seguro, o consumo direto sem o tratamento adequado pode representar sérios riscos à saúde.
A detecção desses compostos na água da chuva nos traz uma preocupação ainda mais ampla: os agrotóxicos não estão apenas presentes nas precipitações, mas também no ar que respiramos diariamente. Essa realidade exige um olhar atento e ações concretas para garantir a saúde pública e a qualidade da água que usamos.



Seja o primeiro a comentar!