Desvendando o Mistério da Matéria Perdida do Universo
Recentemente, um artigo fascinante publicado na renomada revista Nature Astronomy trouxe à tona uma solução para um enigma que tem intrigado astrônomos por décadas: a localização da metade da matéria comum que parece ter desaparecido do Universo. Esse fenômeno intrigante recebeu nova luz graças ao estudo de eventos raros conhecidos como rajadas rápidas de rádio (FRBs).
Essas explosões enigmáticas de energia, que duram apenas alguns milissegundos, possuem uma intensidade imensa, liberando energia equivalente àquela do nosso Sol ao longo de 30 anos. Através da análise dessas rajadas, uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos conseguiu identificar a matéria “perdida” que compõe estrelas, planetas e até mesmo nossos corpos.
A matéria comum e o grande desaparecimento
A matéria comum, que consiste em partículas conhecidas como bárions, interage com a luz, mas se tornou um verdadeiro mistério, pois parecia estar espalhada em uma vasta área do espaço de uma maneira que tornava impossível sua detecção direta. Essa não deve ser confundida com a tão discutida matéria escura, que ainda continua invisível para os telescópios e representa a maior parte da massa do Universo.
O desafio da cosmologia era identificar onde essa matéria estava escondida. Cientistas suspeitavam que ela estivesse dispersa em nuvens gasosas localizadas entre galáxias, mas careciam de evidências concretas para apoiar essa teoria. A nova pesquisa promete mudar este cenário ao demonstrar como as FRBs podem agir como faróis, iluminando o caminho entre suas galáxias de origem e a Terra.
Cientistas “pesam” a matéria ocultada com rajadas rápidas de rádio
Para alcançar suas conclusões, os pesquisadores utilizam um método semelhante à dispersão da luz em um prisma. Quando as FRBs atravessam o meio intergaláctico, que pode ser visualizado como uma névoa cósmica invisível, a luz dessas explosões se espalha. Medindo como essa luz se dispersa, os cientistas podem calcular a quantidade de matéria no caminho da rajada.
Embora milhares de FRBs já tenham sido detectadas, apenas um número reduzido é útil para tais estudos, pois é necessário conhecer a galáxia de origem e a distância até a Terra. De fato, até agora, foram localizadas apenas cerca de 100 fontes com precisão. Nesta nova pesquisa, os autores exploraram dados de 69 FRBs, com distâncias que variam entre 11,7 milhões e 9,1 bilhões de anos-luz. Entre elas, destaca-se a FRB 20230521B, a mais distante registrada até o momento.
Essas rajadas foram coletadas principalmente por uma rede de 110 radiotelescópios chamada Deep Synoptic Array, localizada nos Estados Unidos, além de outros sinais obtidos de uma instalação especializada na Austrália, chamada ASKAP.
Novas descobertas sobre a distribuição da matéria no universo
A conclusão do estudo revela que aproximadamente 76% da matéria normal do Universo está presente no meio intergaláctico. Outros 15% encontram-se em halos difusos ao redor das galáxias, enquanto apenas 9% estão localizados dentro das próprias galáxias, contribuindo para a formação de estrelas e gás. Esses dados corroboram simulações realizadas anteriormente, porém agora com base em observações reais.
Os resultados obtidos têm implicações profundas para a forma como entendemos a formação e a evolução das galáxias. O próximo passo para aprofundar nossa compreensão do cosmos é o lançamento de um novo radiotelescópio, denominado DSA-2000, que irá permitir a detecção de até 10 mil rajadas rápidas de rádio por ano, ampliando significativamente nosso conhecimento sobre a estrutura e a evolução do Universo.
A pesquisa em andamento não apenas soluciona um mistério de longa data, mas também abre portas para novas investigações em um campo que continua a nos surpreender com seus desafios e maravilhas. O uso de FRBs como uma ferramenta para explorar a natureza da matéria no espaço é apenas um dos muitos caminhos que os cientistas estão explorando para desvendar os segredos do cosmos.
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